Bom Dia

Histórias sempre Histórias

Este blog tem o objetivo de compartilhar informações sobre fontes históricas, análises de obras entre outras coisas mais que irão sendo adicionadas no decorrer do tempo, este Blog encontra-se em constante construção então se voce também quiser contribuir com fontes, análises de obras ou qualquer outra contribuição fique a vontade através do email jonastamp@hotmail.com!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

BBB11

Aqui algumas palavras inteligentes do genial Luiz Fernando Verissimo, é certo que alguns pontos são discutiveis(procure e ire suas conclusões), mas a essencia é o que vale
 
    
BIG BROTHER BRASIL (Luiz Fernando Veríssimo) Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo.

Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos "heróis", como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE... Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um "zoológico humano divertido" . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas. Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.

Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis?

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..

Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.

Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.

Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.

E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?

(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!) Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. *

Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade: A FAMILIA!*"

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Natal

Faço minha as palavras de Padre Alberto(http://padrealberto.blogspot.com)
sobre o Natal

Que possamos em nossa vida estar sempre buscando formas de subverter as correntes que nos acomodam e nos deixam satisfeitos com pouco.....




É NATAL ... 
TEMPO DE RENASCER.


Jesus Cristo nasceu na Religião Judáica e foi batizado nela pelo rito da circuncisão (Gn 17-11). Após alguns anos (30) ELE percebeu que aquela Religião não correspondia aos anseios do povo e não correspondia à realidade da época e do local em que ELE vivia. Por causa disso Jesus começou a criticar as normas e preceitos daquela religião que se tornou ultrapassada e inútil e iniciou a pregação de uma Religião mais leve, mais solta, mais coerente à realidade da região e mais de acordo com as necessidades das pessoas daquela época. ( Jesus Cristo era um homem do seu tempo, atualizado. Por que a religião Católica e as religiões evangélicas insistem em serem ultrapassadas, em permanecer em ritos, costumes, preceitos e normas antigas ???).
Jesus veio inovar os conceitos de pecado, jejum, penitência, caridade, justiça e amor a Deus : – “ quem diz que ama a Deus, a quem NÃO vê e NÃO ama ao Irmão, a quem vê, é um mentiroso “ (1Jo 4-20) - .
Jesus era contra a lei (religião) que tudo matava e tudo impedia. Jesus era a favor do Homem e da Liberdade : “ o MEU jugo é suave e o MEU fardo é leve “ (Mt 11-30). A Lei deve servir ao Homem e não o Homem servir à Lei : “ a Lei foi feita para o Homem e não o Homem para a Lei (Mc 2-27). O judaísmo era cheio de regrinhas e preceitos que impediam a espontaneidade do culto e da crença em Deus.
Jesus ultrapassou todos os conceitos religiosos e políticos de sua época, tanto é que, largou a sua religião originária - o Judaísmo – e fundou o Cristianismo.
E hoje ? As Igrejas Cristãs são inovadoras, ou, ultrapassadas e conservadoras ? Elas dão mais valor à Lei, aos preceitos, às normas e ao pecado ou dão mais valor ao Homem, às suas necessidades e aos seus anseios ? “ O MEU jugo é suave e o MEU fardo é leve “ (Mt 11-30).
Os funcionários da religião, ultrapassados e conservadores estão servindo mais ao Cristianismo que quer trazer a BOA NOVA de Jesus Cristo, ou, ao príncipe das TREVAS que quer tudo velho, carcomido, inerte, morto e cheirando à naftalina ?
O demônio está encarnado no conservadorismo dos Bispos, Padres, Freiras, Pastores, crentes e fiéis que não querem se abrir à NOVIDADE do Reino que condena o rigor da Lei e privilegia os anseios do Homem que grita por Pão, Saúde, Moradia, Trabalho, Escola, Transporte e Lazer.
Natal é Nascer e Renascer . Esperamos que neste Natal você renasça do Homem velho e se abra às graças do DEUS MENINO, para que, de dentro de si brote o Homem Novo que certamente irá transformar este mundo.
FELIZ NATAL !!! (VI/XII/MCMXCVI)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

SAULO NÃO MORREU


Nem Fred, nem Stela, Saulo não Morreu, sua imagem está em nós em cada lugar em cada um de nós até mesmo nos mais avessos a tele-novela, ele está presente todos conhecem a cara do ator Werner Schünemann que interpreta o dito personagem, não há uma banca de jornal em que seu rosto não apareça em destaque em todos os ônibus as conversas vão e vem e acabam sempre por tocar no assunto assim como acontece nos elevadores e escritórios, nas filas bancarias e dos postos de saúde. Todos tem a sua hipótese, pois eu vos digo a Minha Saulo não Morreu.

Mas e quanto a realidade que está fora da tela da TV, será que você já parou para pensar e formular suas hipóteses sobre problemas tão banais, como descobrir quem matou quem na novela, tais como Por que a educação no Brasil é uma das piores, por que não há médico nos hospitais da periferia, por que a água e energia elétrica estão tão caras, por que os valores dos terrenos e casas não param de subir????????????????????? tantos POR QUÊS........

As respostas as vezes nos parecem simples para a metade deles, mas a simplicidade tende ao senso comum e nós podemos fazer mais do que isso, vamos mais além quem sabe arriscar um palpite mais complexo ao invés de dizer que foi o Fred, pois como viu o pai se suicidar por contas de problemas com a empresa teria a coragem para tanto, por que não dizer o contrário não foi o Fred, pois ele viu o pai se suicidar e por isso ele não teria a coragem de matar o pai de outra pessoa ou não foi a Stela por que ainda tinha algum sentimento pelo esposo, nem tão pouco foi o amante, pois este vive apenas uma aventura com Stela e não tinha interesse em nada além do que isso.

Pois então quem MATOU SAULO, talvez algum bandido do morro do alemão(não é essa a moda agora) ou uma “bala perdida” da PM que lhe cobrava propina.

Pois é difícil, a questão talvez ele tenha sido morto por um indígena enraivecido pela destruição de sua terra e tenha feito isso em forma de protesto, ou talvez tenha sido um negro cansado de só conseguir papel de bandido e ladrão na TV nacional e quis se vingar.

Ou Talvez ele possa ter morrido de tédio ao ver um eclipse ou talvez uma Lua Nova da Varanda de seu Apartamento.

São tantas as hipóteses que podemos formular, o brasileiro é bom nisso ele tem idéias, criatividade, não se rende, apesar de preferir sempre ir remediando e improvisando ao invés de pensar a longo prazo, não deixando nascer os problemas....

Bom mas esse é o meu povo e eu gosto dele, vamos pensar um pouco e quem sabe esse Brasil fica melhor para si viver, vamos criar nossas hipóteses, vamos refletir sobre nosso dia a dia, sobre as contas a pagar($ ta difícil?), no estudo do filho(poderia melhorar, cadê o inglês???), nas oportunidades que surgem, na rotina de 44h semanais de trabalho(justo???)

As eleições já se foram, mas o jogo da democracia está longe de se encerrar nela( a quem interessa que pensemos assim?) Vamos refletir, usar a criatividade que só o nordestino, o paulista, o carioca, o mineiro, o gaúcho, enfim que o brasileiro fruto de toda essa mistura tem e vamos criar um Brasil melhor, vamos enche o saco dos nossos eleitos(pela internet, no boca a boca, por carta, email, fax, vale tudo) vamos fazer barulho que assim eles nos ouvem e se sozinho você se acha fraco para isso converse com os seus e com certeza você vai encontrar apoio e eco no seu grito.....

 

POR QUE SAULO É APENAS UM PERSONAGEM QUE LOGO SERÁ SUBSTITUIDO, MAS E A NOSSA VIDA SERÁ QUE VALE A PENA ESPERAR ATÉ O ULTIMO CAPITULO PARA SABER A VERDADE???????

 

 


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

No Reino do Desejado

No Reino Do Desejado
A Construção do Sebastianismo em Portugal
séculos XVI e XVII

Jacqueline Hermann é Doutora pela Universidade Federal Fluminense e Pós-Doutora pela Universidad Complutense de Madrid, pertencente ao grupo de historiadores que dando seguimento aos trabalhos iniciados por Laura de Mello e Souza, vão pensar a história através das mentalidades, sendo dessa forma que a autora nos da a discrição do mito sebastianistico, trazendo uma análise da vida e morte de D. Sebastião, fazendo o uso do confronto entre as várias abordagens que a vida deste personagem já foi acometida e acrescentando uma visão ampla através da forma de ver o mundo do tempo em que se passa os acontecimentos.
            Ficando claro a nós a preocupação da autora em contextualizar o Rei no seu quadro social vigente tentando desta forma fugir dos anacronismos e mesmo das paixões que possam surgir na interação com o tema, alias como o próprio nome diz este é o Rei desejado e portanto não é difícil expressar em sua história os desejos, as angustias e os ressentimentos que tenham ficado após o desastre de  Alcacer-Quibir, assim como podemos dizer um certo Jesus que foi crucificado em Jerusalém deixou seus seguidores de tal forma recentidos ao ponto de não mais acreditar em sua volta, como São Tomé nos diz “eu preciso ver para crer”.
            Ora essa comparação um tanto anacrônica, nos põe em contato direto com o mito do sebastianismo, pois foi justamente isso que muitos esperaram a volta do Rei que fora tão desejado, contudo o passar do tempo e a dominação filipina vai transformando o Rei desejado em o Rei que deu errado, era como se Jesus não tivesse ressuscitado(é claro levando em consideração apenas essas passagens como forma de comparação sem a menor intenção de se por a favor ou contra a qualquer questão de ordem religiosa).
            Nesse sentido o distanciamento histórico de nossa inter-locutora muito nos ajuda para trazer uma maior lucidez aos acontecimentos, visto que tanto as análises produzidas no calor do momento quanto a do século das luzes estão imbuídas de uma contaminação pelo contexto vigente enormemente.
            Não que uma pessoa seja capas de se distanciar totalmente do seu estado presente, contudo quando neste se enxerga facilmente sinais do tempo histórico a ser estudado a dificuldade de não ser anacrônico é muito maior.
            Nossa abordagem iniciada por este diálogo entre as interpretações nos leva a refazer o caminho da autora de forma um tanto diversa, mas contudo sem fugir do mesmo.
            Nosso primeiro passo é portanto ver que as influências diretas recebidas pelo jovem príncipe, são sem dúvida importante, contudo o que é mais importante as conversas diárias ou contato constante com uma realidade que fala até mesmo através das pedras para se seguir uma direção é obvio que cada escolha na vida vai nos guiar a um rumo e que um passo poderia ter levado o jovem Rei a ficar isolado em Lisboa em um longo reinado, alias como tinha sido o de seu avô, contudo colocar a culpa pelos rumos de seu reinados nos jesuítas seus confessores e mestres é esquecer de toda a conjuntura e simplificar o contexto, como a autora nos diz “Mais que a Idéia fixa ou a influência nefasta dos Jesuítas, o retorno ao projeto do norte da África fazia parte tanto da cultura popular[....]como da cultura letrada” e em outra passagem ainda lemos, “apesar de se dizerem, “soldados de Cristo”, a Companhia de Jesus, jamais teve por principio uma pregação partidária de Guerras Medievais à moda cruzadística[...]tinham por objetivo ganhar as almas para a cristandade e não resgatar lugares santos”[1], através dessas passagens vemos que a autora não tem por objetivo simplificar e sim discutir.
            Caminhando então nessa discussão, vemos ainda no fragmento do texto que o desejo da reconquista era de se não toda a população da maioria dela, as divergências poderiam se dar na forma de se fazer, mas o desejo era o mesmo e passava a ser muito mais do que retomar o Marrocos e se infiltrar cada vez mais em solo africano, mas sim de restaurar o sentimento de pertencimento ao seleto grupo de “grandes nações” que Portugal se julgava digno.
            É imbuído de todo esse sentimento que o jovem príncipe irá crescer e logo aos três anos se sentar no trono real, aqui apenas gostaria de abrir um parêntese não abordado pela autora, mas quer trauma maior a uma criança que nasce e logo perde o pai a mãe e ainda o avô, voltando ao texto ainda poderia dizer que D. Sebastião ainda tem o desgosto de viver sobre o conflito eterno entre o tio-avô e sua avó disputando cada palmo de terreno do palácio e de sua vida, guerra essa que só cessa com a libertação do rei do circulo de influência de ambos.
            Essa disputa que atormentou o rei por longos anos o influenciou e muito se por um lado trouxe a seu âmbito os jesuítas, além de o fazer seguir determinações um tanto interessantes as Cortes aliadas ao Cardeal seu Tio-avô, além de o darem a tutoria do menino ordenavam “Que El Rey Nosso Senhor, tanto que for de nove annos se tire das mulheres, e se entregue aos homens”.  Dessa forma tirando o contato com a avó, mas além disso o distanciando das mulheres que na época eram mal vistas como vemos na seguinte passagem de Diogo de Teive “se não for possível afastar-se/Das Conversações mais brandas e suaves/ Das mulheres que quando tem mais disto/Tanto lhe podem ser mais perigosas/ Deve-se trabalhar, porque converse/As que forem modestas  temperadas/Fuja das que contrário disto forem”[2]. O que vemos aqui portanto é que muito se desconfia do sexo feminino, até por que no contexto real foi ele varias vezes o representante de Castela em solo luso.
            O desinteresse do Monarca pelas mulheres e pelo matrimonio vê-se, portanto não muito longe também da postura da sociedade na qual ele viveu, religioso, buscando as conquistas e glórias de além mar e desprezando o sexo oposto.
            No entanto falar de D. Sebastião é também falar de Felipe II seu Tio por parte de mãe, este entra na história, como o grande ganhador do desfecho dos acontecimentos envolvendo o reino luso. A Europa Moderna se movia através da política de casamentos, alias isso desde antes, sendo praxe os casamentos entre as casas reais, afim de se conseguirem alianças e apoio, além é claro da manutenção de “sangue real” no trono, neste sentido apesar do desinteresse de D. Sebastião o matrimonio viria a ele como veio a todos os outros em meio a articulações diplomáticas.
            Aqui então cabe ressaltar um fato a misteriosa doença que se abatera sobre rei ainda menino, algo que os portugueses tentavam sempre esconder, mas que todos sabiam e o mistério só fazia a situação pirar, foi assim que o casamento demorou muito a sair com a princesa francesa dando tempo para que Felipe II se aproveitasse da situação e conseguisse desarticular o casamento que o colocaria situação delicada, visto que a França não era sua aliada, assim como atrapalharia o jovem Monarca na sua tentativa de desposar uma das filhas de Felipe II, na sua tentativa de aproximação do tio para a tomada de Marrocos.
            E desta forma o rei desejado foi partiu e morreu em Alcacer-Quibir sem deixar um legado, sem prestígio, sem honra, sem se casar, sem herdeiros, deixou apenas um trono vazio a ser disputado entre uma pouca e fraca nobreza e por Felipe II que a abateu não sem luta, mas através da força e da persuasão.
            Esse final que todos conhecemos esconde, contudo a complexidade dos fatos e por isso que retomando a autora, vemos que D. Sebastião para usar um velho provérbio árabe, podemos dizer “os homens são mais parecidos com o seu tempo do que com seus pais” e esse foi o rei desejado que deveria representar e conquistar todos os anseios do povo luso da reconquista do “Algarve d’e além-mar”, à fortificação do reino em todos os pontos devolvendo toda a glória a coroa da Ordem de Cristo.


[1] HERMANN, Jacqueline, No Reino Do Desejado, pg. 89
[2] HERMANN, Jacqueline, No Reino Do Desejado, pg. 88

O queijo e os Vermes

O queijo e o século XVI
O século XVI foi sem dúvida um período extremamente conturbado onde diversos acontecimentos desestabilizaram a ordem imposta, mudaram valores, pensamentos e até hábitos alimentares. A Reforma protestante por sua parte quebrara a grande crosta que mantinha a população sobre o pressuposto de que a vontade de Deus estava na vontade da Santa Igreja e que qualquer um que falasse em nome dela era dono da razão. Fazendo assim emergir diversas contradições culturais religiosas e políticas dentro da Europa que saia da época medieval.
            Na contra-mão por sua vez a Contra Reforma literalmente queimaria o velho mundo na defesa da antiga ordem se valendo de todos os meios possíveis desde os discursos inflamados dos seus oradores até o fortalecimento da Inquisição e do uso de torturas e da fogueira para “expulsar os  demônios” , da cristandade
            Nesse contexto ainda há o surgimento da imprensa de Gutenberg que popularizaria diversas obras levando a cultura impressa a lugares antes inimagináveis e ao convívio cotidiano de inúmeras pessoas.
            Estes três grandes momentos históricos que estão interligados dentro do processo de fortalecimento dos estados nacionais da Europa ocidental em relação ao papado, mostra o quanto foi conturbada esta época e o quanto se abalou as estruturas desta sociedade, afim de acompanhar as mudanças da forma de pensar, ser, rezar e agir.  Paralelamente os indivíduos em seu existir também foram afetados por esta onda de mudanças independente da proximidade do epicentro deste terremoto, contudo a diferença no tempo e na postura aqui também se vê correlata a esta proximidade. Isso, no entanto ainda não explica a mentalidade dessas pessoas atingidas posteriormente por este movimento.
            Nesse ponto a imprensa entra de forma discreta, porém fundamental, o grande volume de livros e obras produzidos no período do concílio de Trento e também as anteriores e posteriores a ele ficariam a disposição de um número bastante considerável de leitores que apesar da censura da inquisição podiam tomar contato com obras variadas que lhes abriam um vasto horizonte de idéias.
            Tal material contraditoriamente tinha uma grande circularidade nos seus tempos e apesar de serem em maioria apenas os homens de posse os alfabetizados, alguns outros indivíduos também tenham tido o aprendizado das letras, mesmo nas camadas menos favorecidas da sociedade e que nessa parcela da população havia também, uma certa, circularidade de livros, como vemos nos depoimentos de Menochio que muitas vezes receberá livros das mãos de outrem.
            De todo modo essas relações de troca da alta cultura representada por obras como a Divina Comédia, o De Trinitatis erroribus e Decameron e tantas outras com a cultura popular ainda presa a oralidade representaria o que no contexto que descrevemos acima?  Quais os diálogos entre as crises do alto clero e da ordem Feudal, com o homem comum das massas? E mais o que um simples moleiro da afastada Friulli representa? O que e como todos esses movimentos chegam até ele?
            Para responder essa e outras tantas perguntas que o Historiador Carlo Ginzburg nos apresenta, ninguém melhor que o próprio protagonista da história, Menochio um homem que estava em seu tempo em um patamar da sociedade entre o campo e a cidade, pois como moleiro vivia nos afazeres do moinho, moendo e produzindo os seus produtos e os dos vizinhos uma atividade tipicamente rural, mas que também tinha seus contatos com a cidade, diferente de seus vizinhos que eram pequenos produtores e que em geral estavam presos a terra indo a cidade apenas aos domingos e nos dias santos. Menochio por sua vez de quando em quando tinha que se deslocar a cidade, ora em função de sua atividade como administrador paroquial, ora para os cuidados de seu próprio negócio.
Para entender este homem, no entanto temos que nos ater entre outros pontos a sua relação com o todo o contexto em que está envolvido direta e indiretamente e em especial o da Friulli.
            A região onde Menochio morava e onde viveu quase toda sua vida fazia parte do Estado Veneziano, todavia fora um território conquistado que nunca havia se conformado totalmente com essa dominação. Desde a conquista as discordâncias entre os favoráveis e os contra Veneza dentro da Nobreza, haviam dividido a classe, portanto se articulavam em dois blocos um contrário a dominação de Veneza e outro a favor. Esses grupos em disputa constantemente manobravam as massas ao seu favor, contudo em determinado momento poderíamos dizer que o fermento foi posto além da     de ambos os partidos, o que fez que o sentimento de solidariedade de classe falasse mais alto e o combate da revolta se desse ferozmente em uma clara situação de luta de classes e não inter-classes.
            Ao ver tal situação a postura Veneziana foi audaciosa, fazendo uso de uma política bem interessante conseguiu fazer com que os camponeses canalizassem sua ira contra os nobres ao invés de irem contra todo o sistema no qual o topo estava o próprio Veneto, fazendo concessões e submetendo vários encargos a valores controlados pelo estado central, acalmou os ânimos trazendo o sentimento de que Veneza estava com os camponeses quando possivelmente o maior interesse do Estado era desarticular a subversiva Nobreza Friulliana dando alguns benefícios estratégicos ao campesinato que enfraquecia seus rivais e ainda lhe rendia o apoio da massa.
            Contudo, a redução de encargos e as benfeitorias não atingiam as terras pertencentes à Igreja e elas eram muitas, o que fazia com que a instituição que já não era bem vista, por diversas vezes representar os interesses da nobreza ou do Estado em detrimento ao da população em geral e que algumas gerações após a revolta camponesa, já na época de Menochio  havia sofrido tantos ataques com a reforma que a colocava em xeque quanto a sua postura ética, se mostrava como a maior opressora da população da região.        
            E nesse ponto Menochio não consegue aceitar a realidade em qual ele vive, como a Santa Madre Igreja poderia ser uma instituição capaz de explorar mais o povo que a própria Nobreza.
            Nesse sentido nosso moleiro busca respostas e refugio nos livros que a ele chegam através de mãos diversas sem na maioria das vezes serem escolhidos, mas que o acaso trouxera.
            Essa disseminação da fonte escrita, no entanto, se choca claramente com a forma oral de vida de Menochio que tende a absorver da leitura tanto quanto o que se absorve de uma conversa, ou seja, apenas aquilo que o ouvido da mais ênfase, aquilo que já se esperava ouvir, aquilo que se busca escutar.
            De obras como o fioretto della Bíbbia ele retirará inúmeras citações, mas por que não da própria bíblia se está seria a única lei como diria os luteranos e os anabatistas, isso se explica por dois motivos primeiro o fato de ele não ler bem o latim e segundo pelo fato de acreditar que “que a Sagrada escritura foi inventada para enganar os homens”¹, portanto o fioretto della Bibbia estava muito mais próximo dele e também lhe agradava mais sua visão altamente escolástica e até mesmo pelo fato de ter sido este livro por ele comprado e que portanto deve ter estado com ele por mais tempo e em um contato mais constante e consciente.
            A obra acima citada tem os seus méritos de influência no pensamento de Menochio, no entanto em sentido inverso, ao ler o Fioreto della Bibia, ao invés de cair na escolástica do autor que sempre apresentava várias teses para as reputá-las posteriormente, ele fez como um aluno esforçado foi buscar suas “próprias respostas” em outros autores que passaram por suas mãos por acaso sempre refletindo “as coisas maiores”, ou seja, o livro não se limitava a suas história, e isso explica um dos motivos das inúmeras citações dessa obra.
            Menochio estava longe de ser um leitor passivo ele quer dar a sua opinião. “...eu tirei da minha própria cabeça”, “falaria tanto que surpreenderia a todos” e portanto cada antítese vira tese e da mesma forma ao contrário quando sua cabeça começa a trabalhar e racionalizar o que leu, segundo sua própria experiência e segundo as experiências absorvidas através de suas leituras.
            Se valendo de um velho ditado “quem procura acha” podemos dizer que esse era Menochio sempre na procura por algo, mais o que? Deus talvez. Provavelmente não o Deus Católico, nosso Moleiro queria um Deus terreno, próximo “amar a Deus e ao próximo” “Deus está no próximo”, Deus como o ser provedor de um bem estar social.
¹ Capítulo 6 pag. 51
 
            Esse sentimento de busca pela justiça social que o atormentava passava obrigatoriamente por mudanças nos dogmas da Igreja, visto o grau de intimidade entre religião e Estado em uma época que nem se sonhava com um Estado laico, talvez apenas os anabatistas vissem tal possibilidade e por isso tenham sido perseguidos por ambos reformadores e Contra-reformadores, ainda retomando o dito antes que a Igreja a muito se punha como a maior opressora social, era ali no seio da Santa Igreja que Menochio quer começar sua “reforma” uma verdadeira mudança social, para construir a sua utopia na Terra.
            Sonho esse compartilhado por inúmeros indivíduos da Europa cristã nesse período, contudo cada um na sua individualidade e valor, nosso moleiro é um exemplo desse comportamento mais não pode ser fruto de uma generalização, pelo contrario é a busca pela especificidade de um ponto sensível da sociedade de seu tempo que vivia e não só fazia teoria, “era amigos de todos” combina bem com a sua crença “Deus está no próximo” que é igual a “amai o próximo sobre todas as coisas” sua vida é exemplo de seu pensamento, Menochio sempre quis a mudança e por isso agia conforme seu pensamento, seu erro, talvez foi ter guardado seus dizeres para pessoas erradas, não ter acreditado na massa que o circundava, “se tivesse a minha frente um príncipe ou o papa falaria”, com os seus se limitava a falar coisas que soavam como loucura e brincadeira, não procurava fazer um real processo de doutrinação de suas teorias para com os próximos, talvez aqui caiba ainda outra expressão popular de nossos dias “santo de casa não faz milagre”.
            Não a provas, no entanto que tal dizer existisse em seu tempo, mas com certeza o exemplo de Lutero era bem vivo em sua memória(tanto na oral como na escrita) falar a seus superiores e caso não lhe fosse aprovado, fugir e se valer das intrigas entre poder temporal e secular para se impor até o ponto de criar sua nova seita era algo que parecia possível , contudo tal desejo não se mostra profundamente em Menochio ele estava muito mais para um reformador no sentido literal da palavra “tendo nascido cristão quero continuar cristão e, se tivesse nascido Turco, ia querer viver como turco”², queria continuar dentro da religião que fora  a de seu pai e a de seus avós, contudo até mesmo por conta do impacto da Reforma se achava capaz de mudar toda a sociedade através das suas concepções.
² Capitulo 23 pag. 101
 
            Mais uma vez sua mentalidade e seus sentimentos se mostram extremamente presentes na sua prática social e na sua forma de enxergar o mundo. Com o sentimento de agente histórico atuante ele simplesmente não podia deixar a vida passar sem tentar fazer as suas mudanças isso reforça mais uma vez a sua prática de deformação e recodificação dos textos e nos faz entrar em um campo extremamente delicado e fundamental de toda essa história que Ginzburg nos envolve, a Cosmogonia de Menochio afinal da onde vem o queijo e os Vermes é apenas uma comparação simples? O que há de escondido atrás dessa frase?
            Menochio mesmo no segundo processo quando pela primeira vez, cita a palavra sonho no sentido de alguma revelação sobrenatural. O faz talvez mais por prudência e por medo, visto que já havia suportado o cárcere do Santo Oficio do que conscientemente, talvez como Ginzburg, levanta possa ter sido a influência do Alcorão, contudo essa não é certa. Resta a nós supor então que atrás de suas convicções esteja sua própria vivência cotidiana, ainda mais quando vemos suas palavras carregadas de metáforas, contudo esse mesmo homem em sua escrita faz uso de um procedimento totalmente diverso usando um estilo escolástico, mesmo que tanto um estilo como outro possam ter sido adotados de forma inconsciente, de qualquer forma é algo interessante a se pensar mais adiante.
Voltando a pensar na sua cosmogonia, seria subestimá-lo dizer que ela seja fruto apenas de um intercambio com outros povos que possivelmente tenham a trazido, mesmo levando em conta as proximidades com crenças citadas por Ginzburg e que Menochio possa ter tomado contato, afinal Veneza fora um centro de grande movimentação e nosso protagonista passou ao menos algumas vezes por lá.
            Essa circularidade de idéias que o autor vem nos mostrando em diversos momentos através dos contatos entre cultura erudita e popular, entre crenças pré-cristãs e as cristãs, a troca entre a cultura européia, turca, indiana entre outras, mostram a nós quantos fatores influenciam um homem e como as vezes se pode encontrar fragmentos de idéias de diversos autores em uma frase. Isso nos leva a indagar de quem é a tese dos autores lidos ou daquele que os juntou em sua cabeça?
            Deixemos Menochio falar para responder essa questão “tenho cabeça sutil,quis procurar as coisas maiores” nesse sentido e sempre buscando a mudança precisava quebrar o primeiro dogma essencial o da criação do mundo, em sua mente a idéia de algo não material não tem espaço “eu acredito que não possa se fazer nada sem matéria”, mesmo mudando alguns elementos, ele sempre insiste nesse ponto.
            Não por acaso o caos ao qual ele se refere é uma enorme massa de matéria da qual surge Deus ou Deus convive até a sua maturidade, os anjos  nascerem da naturalmente como os vermes nascem do queijo e Cristo e o Espírito Santo também sejam frutos desse Caos.
            Pontos esses que podem ser percebidos em outras obras como o Fiortto della Bibbia que fala do caos ou o eco da divina comédia, no entanto vemos o dom de Menochio em manipular as letras e fazer com que sua teoria se aproxime da prática, como diria Marc Bloch deve se falar de modo que estudantes e doutos o compreenda, podemos supor que esse também era o seu objetivo, mesmo que inconscientemente, portanto simplificava para se fazer entender pelas massas, através de analogias e metáforas diversas, assim como aos senhores da Igreja escrevia com uma retórica digna da escolástica, contudo como fruto do seu tempo e do impacto das letras ele acabara por inconscientemente dividir essas atitudes em linguagens, oral e escrita, sendo que ao invés de dividir pelo grupo humano ele próprio foi dividido escrevendo de um jeito e falando de outro, como vemos em todo o processo o uso incessante de metáforas e nas cartas a retórica.
            Voltando ainda a sua teoria ela apenas começa no caos, com grande inteligência ao afirmar que Deus era matéria não só Menochio quebrara um dogma como abria caminho para a derrubada de tantos outros. O próximo passo era tirar Deus do céu e colocá-lo na terra. Se Deus era matéria ele deveria estar em algum lugar, mas se nunca ninguém o tinha visto isto se tornava contraditório, portanto nosso Moleiro irá dizer que “Deus está em tudo” e a racionalmente o que está em todas as coisas é o ar “Deus é o ar””Deus não passa de um sopro”, alias se Deus esta em tudo não preciso se ir até a igreja para ter parte com ele “se os homens soubessem as penitencias poderiam se confessar a uma árvore”, nesse sentido a forma mais racional de se chegar a Deus seria amando o próximo, visto que ele poderia transmitir-lhe Deus da mesma forma que você poderia fazer o mesmo a essa pessoa.
            Esse foi, o nosso moleiro, uma só pessoa com inúmeras faces que as vezes se contradizem, mas que sempre estão na busca de um mesmo ideal, uma vida cotidiana mais humana e fraterna. Talvez a grande lição de Menochio a nós hoje seja, portanto viver nossas teorias na prática, acreditar que temos capacidade de mudar um sistema, falar a todos sem distinções, acreditar naqueles que sejam mais fracos ou menos informados, mostrar que um verdadeiro processo revolucionário vem tanto de cima, como de baixo, que a sociedade mesmo dividida nunca a podemos separar em caixinhas vivemos em círculos diferentes, mas que tem sempre suas intersecções, portanto não se pode desprezar nenhuma parte de uma sociedade qualquer.
            Além disso, Ginzburg nos mostra que toda história é valida, depende da forma como é feita a abordagem, uma história no âmbito micro(história de um personagem especifico, por exemplo), pode tornar-se macro, transcendente, cabe apenas que nós nos atentemos em nosso trabalho, e possamos cumprir o dever de fazer uma história que atente as realidades impostas pelo dia-a-dia, na forma de critica ou elogio, desde que não seja limitadora, mas que acrescente ao debate.