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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

No Reino do Desejado

No Reino Do Desejado
A Construção do Sebastianismo em Portugal
séculos XVI e XVII

Jacqueline Hermann é Doutora pela Universidade Federal Fluminense e Pós-Doutora pela Universidad Complutense de Madrid, pertencente ao grupo de historiadores que dando seguimento aos trabalhos iniciados por Laura de Mello e Souza, vão pensar a história através das mentalidades, sendo dessa forma que a autora nos da a discrição do mito sebastianistico, trazendo uma análise da vida e morte de D. Sebastião, fazendo o uso do confronto entre as várias abordagens que a vida deste personagem já foi acometida e acrescentando uma visão ampla através da forma de ver o mundo do tempo em que se passa os acontecimentos.
            Ficando claro a nós a preocupação da autora em contextualizar o Rei no seu quadro social vigente tentando desta forma fugir dos anacronismos e mesmo das paixões que possam surgir na interação com o tema, alias como o próprio nome diz este é o Rei desejado e portanto não é difícil expressar em sua história os desejos, as angustias e os ressentimentos que tenham ficado após o desastre de  Alcacer-Quibir, assim como podemos dizer um certo Jesus que foi crucificado em Jerusalém deixou seus seguidores de tal forma recentidos ao ponto de não mais acreditar em sua volta, como São Tomé nos diz “eu preciso ver para crer”.
            Ora essa comparação um tanto anacrônica, nos põe em contato direto com o mito do sebastianismo, pois foi justamente isso que muitos esperaram a volta do Rei que fora tão desejado, contudo o passar do tempo e a dominação filipina vai transformando o Rei desejado em o Rei que deu errado, era como se Jesus não tivesse ressuscitado(é claro levando em consideração apenas essas passagens como forma de comparação sem a menor intenção de se por a favor ou contra a qualquer questão de ordem religiosa).
            Nesse sentido o distanciamento histórico de nossa inter-locutora muito nos ajuda para trazer uma maior lucidez aos acontecimentos, visto que tanto as análises produzidas no calor do momento quanto a do século das luzes estão imbuídas de uma contaminação pelo contexto vigente enormemente.
            Não que uma pessoa seja capas de se distanciar totalmente do seu estado presente, contudo quando neste se enxerga facilmente sinais do tempo histórico a ser estudado a dificuldade de não ser anacrônico é muito maior.
            Nossa abordagem iniciada por este diálogo entre as interpretações nos leva a refazer o caminho da autora de forma um tanto diversa, mas contudo sem fugir do mesmo.
            Nosso primeiro passo é portanto ver que as influências diretas recebidas pelo jovem príncipe, são sem dúvida importante, contudo o que é mais importante as conversas diárias ou contato constante com uma realidade que fala até mesmo através das pedras para se seguir uma direção é obvio que cada escolha na vida vai nos guiar a um rumo e que um passo poderia ter levado o jovem Rei a ficar isolado em Lisboa em um longo reinado, alias como tinha sido o de seu avô, contudo colocar a culpa pelos rumos de seu reinados nos jesuítas seus confessores e mestres é esquecer de toda a conjuntura e simplificar o contexto, como a autora nos diz “Mais que a Idéia fixa ou a influência nefasta dos Jesuítas, o retorno ao projeto do norte da África fazia parte tanto da cultura popular[....]como da cultura letrada” e em outra passagem ainda lemos, “apesar de se dizerem, “soldados de Cristo”, a Companhia de Jesus, jamais teve por principio uma pregação partidária de Guerras Medievais à moda cruzadística[...]tinham por objetivo ganhar as almas para a cristandade e não resgatar lugares santos”[1], através dessas passagens vemos que a autora não tem por objetivo simplificar e sim discutir.
            Caminhando então nessa discussão, vemos ainda no fragmento do texto que o desejo da reconquista era de se não toda a população da maioria dela, as divergências poderiam se dar na forma de se fazer, mas o desejo era o mesmo e passava a ser muito mais do que retomar o Marrocos e se infiltrar cada vez mais em solo africano, mas sim de restaurar o sentimento de pertencimento ao seleto grupo de “grandes nações” que Portugal se julgava digno.
            É imbuído de todo esse sentimento que o jovem príncipe irá crescer e logo aos três anos se sentar no trono real, aqui apenas gostaria de abrir um parêntese não abordado pela autora, mas quer trauma maior a uma criança que nasce e logo perde o pai a mãe e ainda o avô, voltando ao texto ainda poderia dizer que D. Sebastião ainda tem o desgosto de viver sobre o conflito eterno entre o tio-avô e sua avó disputando cada palmo de terreno do palácio e de sua vida, guerra essa que só cessa com a libertação do rei do circulo de influência de ambos.
            Essa disputa que atormentou o rei por longos anos o influenciou e muito se por um lado trouxe a seu âmbito os jesuítas, além de o fazer seguir determinações um tanto interessantes as Cortes aliadas ao Cardeal seu Tio-avô, além de o darem a tutoria do menino ordenavam “Que El Rey Nosso Senhor, tanto que for de nove annos se tire das mulheres, e se entregue aos homens”.  Dessa forma tirando o contato com a avó, mas além disso o distanciando das mulheres que na época eram mal vistas como vemos na seguinte passagem de Diogo de Teive “se não for possível afastar-se/Das Conversações mais brandas e suaves/ Das mulheres que quando tem mais disto/Tanto lhe podem ser mais perigosas/ Deve-se trabalhar, porque converse/As que forem modestas  temperadas/Fuja das que contrário disto forem”[2]. O que vemos aqui portanto é que muito se desconfia do sexo feminino, até por que no contexto real foi ele varias vezes o representante de Castela em solo luso.
            O desinteresse do Monarca pelas mulheres e pelo matrimonio vê-se, portanto não muito longe também da postura da sociedade na qual ele viveu, religioso, buscando as conquistas e glórias de além mar e desprezando o sexo oposto.
            No entanto falar de D. Sebastião é também falar de Felipe II seu Tio por parte de mãe, este entra na história, como o grande ganhador do desfecho dos acontecimentos envolvendo o reino luso. A Europa Moderna se movia através da política de casamentos, alias isso desde antes, sendo praxe os casamentos entre as casas reais, afim de se conseguirem alianças e apoio, além é claro da manutenção de “sangue real” no trono, neste sentido apesar do desinteresse de D. Sebastião o matrimonio viria a ele como veio a todos os outros em meio a articulações diplomáticas.
            Aqui então cabe ressaltar um fato a misteriosa doença que se abatera sobre rei ainda menino, algo que os portugueses tentavam sempre esconder, mas que todos sabiam e o mistério só fazia a situação pirar, foi assim que o casamento demorou muito a sair com a princesa francesa dando tempo para que Felipe II se aproveitasse da situação e conseguisse desarticular o casamento que o colocaria situação delicada, visto que a França não era sua aliada, assim como atrapalharia o jovem Monarca na sua tentativa de desposar uma das filhas de Felipe II, na sua tentativa de aproximação do tio para a tomada de Marrocos.
            E desta forma o rei desejado foi partiu e morreu em Alcacer-Quibir sem deixar um legado, sem prestígio, sem honra, sem se casar, sem herdeiros, deixou apenas um trono vazio a ser disputado entre uma pouca e fraca nobreza e por Felipe II que a abateu não sem luta, mas através da força e da persuasão.
            Esse final que todos conhecemos esconde, contudo a complexidade dos fatos e por isso que retomando a autora, vemos que D. Sebastião para usar um velho provérbio árabe, podemos dizer “os homens são mais parecidos com o seu tempo do que com seus pais” e esse foi o rei desejado que deveria representar e conquistar todos os anseios do povo luso da reconquista do “Algarve d’e além-mar”, à fortificação do reino em todos os pontos devolvendo toda a glória a coroa da Ordem de Cristo.


[1] HERMANN, Jacqueline, No Reino Do Desejado, pg. 89
[2] HERMANN, Jacqueline, No Reino Do Desejado, pg. 88

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